sábado, 23 de abril de 2011

Taça da Liga: Benfica-P. Ferreira, 2-1 (crónica)



Troféu negro para um tricampeão cinzento e mazoquista
Por Vítor Hugo Alvarenga

O Benfica confirmou o domínio na Taça da Liga com a terceira conquista. Um triunfo suado na inquietude de um gigante assustado com a realidade. Jorge Jesus garante um troféu ensombrado no início da época pela ameaça de boicote (2-1). Vitória insuficiente para disfarçar a temporada abaixo das expectativas. A Liga Europa é a solução.

Moreira segurou a Taça, uma versão negra entregue a uma equipa cinzenta, sem brilho, frente a um Paços de Ferreira que se entusiasmou com tamanhas oferendas ao longo do encontro. Oscar Cardozo passou ao lado do jogo e tornou-se o alvo da ira encarnada.

Uma palavra para a organização. Festa bonita em Coimbra, com cerimónia antes do jogo e 26 mil nas bancadas. Balanço positivo numa prova prejudicada recorrentemente por incongruências regulamentares. Já agora, dispensam-se as adolescentes em mini-saia como apanha-bolas. Embelezar, sim. Atrapalhar não, obrigado.

Moreira com pompa e circunstância

Jorge Jesus devolveu a confiança a Moreira, titular ao longo de grande parte do trajecto na Taça da Liga. O guarda-redes português viria a retribuir com pompa e circunstância, satisfazendo aqueles que pediam o seu nome na baliza encarnada durante a época.

O Paços de Ferreira tardou a despir a pele de intruso nesta final. Ainda assim, manteve-se na discussão do resultado até ao último suspiro, muito por culpa de um Benfica tão ofensivo como masoquista.

Ao quarto minuto, o poste devolveu o primeiro ensaio. Jorge Jesus batia palmas a uma entrada forte, um sinal de reconciliação com os adeptos após choque caseiro na Taça de Portugal, objectivo roubado na Luz pelo imparável F.C. Porto.

O Paços tremia como varas verdes. Maykon surgia na área e dominava logo para fora, Rondon ameaçava mas atirava para as mãos de Moreira. Esforço tão louvável como insuficiente.

Primeiros sintomas de mazoquismo

Com um quarto-de-hora de jogo, a Taça já pendia para o lado do Benfica. Logo depois, Franco Jara reforçou a impressão, com um cabeceamento certeiro após insistência de Fábio Coentrão na esquerda.

O primeiro sintoma de masoquismo veio à meia-hora, quando Maxi Pereira se pôs a jeito para permitir o empate. Pizzi fintou na área, viu o braço do urugaio e procurou a falta. Pedro Proença assinalou. Decisão discutível mas aceitável.

Era o momento. Os castores esperançavam-se. O pequeno agitava-se. Moreira não deixou, travando o remate violento de Manuel José. Uma vez mais, a Taça da Liga reabilitou por completo um guarda-redes. Há duas épocas, foi Quim.

O Benfica recebia nova oportunidade para arrumar a questão. Ameaçou isso mesmo, com Javi Garcia a marcar à segunda, perto do intervalo. Gritante falha de marcação dos pacenses, deixando o espanhol com tempo para falhar, pensar e emendar.

Segunda metade com sinal amarelo

Dois golos de vantagem, perspectivas naturais de troféu assegurado. Porém, este Benfica atravessa uma crise existencial, uma falta de confiança impressionante em no seu jogo. Ao minuto 51, o capitão Luisão deu o pior exemplo, desviando para o fundo da própria baliza, quando Moreira surgia nas suas costas para segurar.

Chegara a hora do Paços. Observando a angústia encarnada, a equipa de Rui Vitória trepou por ali acima. Rondon falhou de cabeça, David Simão e Manuel José testaram Moreira, Jorge Jesus viu-se obrigado a responder. Ouviu assobios quando trocou Saviola por Airton (68m) mas travou a corrente pacense.

Os homens da Capital do Móvel merecem um capítulo, no mínimo. Abrilhantaram uma final que parecia escrita a vermelho. Menção honrosa numa época de grande nível, orgulhando uma cidade que deixou uma mancha amarela entre a cor dominante em Coimbra. Faltaram pernas para acompanhar a ambição na recta final.

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