segunda-feira, 14 de março de 2011

Liga Europa: Sp. Braga-Liverpool, 1-0 (crónica)

Alma de guerreiro seca nobre preguiçoso
Por João Tiago Figueiredo

Um gigante que não faz cócegas pode continuar a ser um gigante? Pode uma equipa reputadíssima assustar só pelo nome? O Liverpool que veio ao Minho fez lembrar um nobre falido no alto do seu palacete. Sabedor da sua importância, consciente de que tinha de se mexer para voltar à glória...mas à espera que algo caísse do céu. Do outro lado esteve uma equipa que fez jus ao seu cognome. O Sp. Braga foi guerreiro, mas também realista e venceu justamente por 1-0.

Tomando a apatia inglesa como estratégia, e não impotência, pode pensar-se que Kenny Dalglish, ao estudar o Sp. Braga, detectou-lhe a sua arma mais forte: o contra-ataque. Ao abdicar de construir jogo, o Liverpool limitava o conjunto português nesse capítulo e tentava mostrar-lhe o próprio veneno. Nem uma coisa, nem outra. Mesmo que os «arsenalistas» evidenciassem dificuldades em furar a muralha inglesa, notava-se que seria uma questão de tempo até surgir o perigo.

Curiosamente, antes do perigo, veio o golo, por assim dizer. Ainda nenhuma equipa tinha feito um remate sequer, quando Mossoró caiu tocado por Kyrgiakos. Penalty claro, infantil e castigo mordaz para o gigante inglês.

O golo pouco mudou na atitude do Liverpool, que jogava com Kuyt a fazer de ponta-de-lança e Raul Meireles logo atrás. E nem quando Sílvio atirou à trave, já com o intervalo à vista, a sirene de alarme tocou. O primeiro remate do Liverpool - e é preciso muita boa vontade para se poder dar esse nome - veio em cima do descanso, por Meireles de cabeça. Tão pouco. Quase nada, mesmo.

Carroll mascara inoperância

Pressentia-se nas bancadas que o Sp. Braga, forçando, poderia conseguir um resultado histórico ou, pelo menos, mais confortável para a viagem a Inglaterra. O Liverpool ameaçava perder por falta de comparência e a Domingos só se pedia risco calculado.

No jogo dos bancos, adiantou-se Dalglish. Lançou Andy Carroll, libertando Kuyt, e, com isso, fez crescer a equipa. Sem criar lances de verdadeiro aperto, os ingleses foram, pelo menos, mais presentes no ataque. Mais condignos com o nome que ostentam. Viram Artur voar para negar o golo a Kuyt, pouco depois de ter sido lesto a sair aos pés do holandês. Viram, também, Carroll desviar por cima um canto de Raul Meireles. Mas nada mais. Muito pouco, insiste-se.

A descrição (e discrição, já agora) do Liverpool, não pretende, sublinhe-se, tirar mérito ao que fez o Sp. Braga. Com o onze possível, face às muitas ausências, Domingos somou o segundo triunfo da época frente a colossos ingleses. Sem arriscar sofrer um golo que poderia ser fatal na eliminatória, não se privou do ataque. Faltou-lhe, apenas, criar conforto no marcador.

Mas será justo pedir mais? É verdade que o resultado está longe de dar um grande balão de oxigénio para uma equipa que até já foi goleada em terras britânicas esta temporada. Mas o sonho continua. Vivinho da Silva, para usar o bom português que se espera sirva de legenda a esta eliminatória.

Para já, fica mais uma gloriosa noite europeia para o livro de ouro deste Sp. Braga que já tem uma certeza para a segunda mão. Se cair, será de pé.

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