quinta-feira, 17 de março de 2011

F.C. Porto-CSKA Moscovo, 2-1 (crónica)


Em 45 segundos mudou-se tanto, que mudou tão pouco
Por Sérgio Pereira

Vamos fazer um exercício, leitor: conte cada segundo até 45. Dar-lhe-á, mais ou menos, para ler esta crónica até ao quarto parágrafo. Pois bem, foi o tempo que o F.C. Porto demorou a dobrar um velho estigma europeu: marcar em casa ao CSKA Moscovo. Pouco menos do que nada, portanto.

Uma ilusão de óptica permitiu a Hulk fazer o primeiro golo e lançar a equipa para os quartos-de-final. Fala-se em ilusão de óptica porque Akinfeev pensou que Guarín ia desviar, mas o colombiano não chegou à bola. Aos trambolhões, é verdade, mas certo é que o Porto entrou no jogo a ganhar.

Confira a ficha de jogo

O golo madrugador foi uma bênção. Por várias razões. Por exemplo porque tranquilizou o Dragão. Também porque diminuiu a fé do CSKA. Mas sobretudo porque permitiu ao F.C. Porto jogar com mais serenidade um futebol puxado à retaguarda, com dois pivots defensivos (Fernando e Guarín).

André Villas-Boas não teve vergonha em abdicar de uma posse de bola constante, perante um adversário que se apresentava mais ofensivo do que em Moscovo e com a convicção toda na procura do golo que empatasse a eliminatória. Por isso aquele golo madrugador, repete-se, foi uma bênção.

Mas não foi a única: aos 23 minutos, um erro de Afinkeev deixou a bola em James, que serviu Guarín para o segundo golo. O colombiano fez o terceiro golo em três jogos. Notável, sem dúvida. Um pouco fortuitamente, e sem um futebol que o justificasse, o F.C. Porto parecia encerrar a eliminatória.

Destaques: O «Incrível» Hulk e o «Só Guarín»

Puro engano, claro. Este CSKA é russo, e como todos os russos é frio: está habituado a lutar contra as adversidades e não desiste à primeira contrariedade. Para além disso é muito boa equipa e tem um extremo que é um perigo: Tosic. O sérvio, precisamente, ressuscitou a eliminatória aos 28 minutos.

O golo que marcou, um bom golo, aliás, na sequência de uma jogada de envolvimento, teve mais significado logo a seguir quando Doumbia falhou um cabeceamento solto na cara de Helton. Nessa altura percebeu-se como a vantagem era perigosa: qualquer erro injectaria o CSKA de moral e crença.

Villas-Boas mexe e mexe (muito bem)

O intervalo, por isso, não foi nervoso, mas foi apreensivo: o Dragão estava inquieto. Com o tempo, porém, o desassossego passou. Passou sobretudo por obra e graça de Villas-Boas. O treinador lançou Belluschi no lugar de James (logo bem cedo), e mudou a estratégia para quatro médios.

A partir daí o F.C. Porto roubou ao CSKA o que ele tinha tido de mais precioso na primeira parte: a bola. Sem ela, os russos perderam fé e saber, raramente chegaram à baliza de Helton e com isso foram motivando o Dragão. Cada minuto que passava era mais um fôlego de tranquilidade.

A última meia-hora final foi por isso percorrida ao ritmo da certeza cada vez maior de que a passagem aos quartos-de-final da Liga Europa estava segura. Pelo meio Rolando ainda marcou, mas o golo não valeu por mão do central. Nada que alterasse o essencial que foi dito atrás.

O F.C. Porto venceu pela primeira vez em casa o CSKA, e mais do que isso marcou-lhe pela primeira vez golos. É certo que nem sempre foi brilhante, mas foi maduro. Foi competente. Nas bancadas já se canta que o Porto vai ganhar a taça. Da última vez que o cantaram, curiosamente, ganharam-na.

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