domingo, 14 de agosto de 2011

V. Guimarães-F.C. Porto, 0-1 (destaques)



A confirmação desnecessária de que Hulk é um caso especial; o aparecimento de um menino chamado Barrientos e a noite do desperdício de Kléber.
Por Pedro Jorge da Cunha

A Figura: Hulk

Um golo de grande penalidade, duas assistências perfeitas para Kléber, uma mão-cheia de arrancadas a deitar por terra o mais concentrado dos defesas. Hulk começa a Liga da forma do costume. A decidir. Fê-lo na última época, na Figueira da Foz, como já fizera anteriormente. É um caso à parte, um jogador de atributos únicos e, também por isso, de leitura exclusiva. Erra mais do que os outros porque arrisca mais; remata mais, dribla mais, desafia tudo com a maior das naturalidades. Tudo aponta para mais uma temporada em êxtase constante.

A desilusão: Kléber

A noite do desencanto. Do desperdício abusivo. Três lances claríssimos para golo, três más decisões. No primeiro lance desenquadrou-se com a baliza e rematou para a defesa de Nilson; no segundo retardou a decisão até permitir a intervenção do guarda-redes; no terceiro, com tempo e espaço, fuzilou uma das cadeiras no Topo Sul. Isto tudo e Radamel Falcao a assistir desde o banco de suplentes. Não está em causa a sua qualidade. Kléber tem porte físico, trabalha bem a bola, entrega-se à luta e é fortíssimo no ar. Mas a vida de ponta-de-lança exige fiabilidade na grande área. Não correspondeu.

O momento: a grande penalidade

A gravata de Leonel Olímpio a Sapunaru atirou ao chão um equilíbrio intenso e irresistível. O puxão existe, de facto, e o romeno dele tirou o melhor proveito. Chamado a cobrar o castigo máximo, Hulk lá decidiu uma contenda jogada olhos nos olhos, de lábios trincados e suor em bica. Para aumentar os níveis de suspense, a bola ainda bateu no poste e saiu aos repelões antes de beijar as redes. Se gostasse de futebol, Alfred Hitchcock era bem capaz de incluir uma cena destas num dos seus filmes.

Outros Destaques

Jean Barrientos
Paixão à primeira vista entre a plateia e o actor. Representação maior deste uruguaio, senhor de drible fácil, rapaz de serpenteios e nuances de criatividade. Confiante, quase provocador, chegou ao ponto de fazer um cruzamento de letra na esquerda. Direita, centro, esquerda, Barrientos pisa qualquer ponto de terreno, seja qual for a ideologia ou o contexto do mesmo. A noite podia ter sido ainda melhor se não se tivesse assustado com o olhar de Helton. Desequilibrou-se, não acertou na bola e adiou a felicidade. Ficaram as juras de talento eterno.

Otamendi
O ciclo de alternância entre o argentino e Maicon parece não fazer sentido. Três intervenções heróicas e decisivas na segunda parte voltam a edificar a discussão: quem é o melhor central do F.C. Porto? Nicolás Otamendi é, no mínimo dos mínimos, um dos dois melhores. Imperial nas alturas, coriáceo pelo chão, teimoso do princípio ao fim. Grande jogo, um dos melhores em campo.

João Paulo
Um combatente de convicções inabaláveis. Para ele, só a pele esfolada e os múscudos esticados ao limite comprovam a nobreza da actuação. Entrega comovente à causa vitoriana, a manipular limitações e a elevar o amor ao emblema. Um jogador anacrónico, portanto, à moda antiga. A repetição da bela amostra deixada já na Supertaça.

Nilson e Helton
Longe vão os tempos em que do Brasil só chegavam camiões de avançados e médios malandros. A europeização do futebol canarinho renovou a concepção do treino de baliza. Já não é fácil encontrar um Valdir Peres, talvez o pior internacional brasileiro de sempre na sua posição. Nilson e Helton voltaram a comprovar os dados anteriores. Noite praticamente perfeita dos compatriotas. Defesas atrás de defesas, algumas a roçar o rótulo do impossível. Só mesmo de grande penalidade algum deles se vergou. Dois belos profissionais.

Freddy Guarín
O mais influente no F.C. Porto até ser substituído. Tudo lhe sai bem. Passes de primeira, fintas desorientadoras, assistências longas, sempre de cabeça levantada. O que este homem amadureceu no último ano! A jogar assim, das duas uma: ou se torna titular indiscutível ou é transferido até 31 de Agosto.

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