domingo, 10 de julho de 2011

Vítor Pereira: ainda mais difícil



A eleição de Vítor Pereira para treinador do campeão garante o essencial: não haverá ruptura. Não se perderá tempo, a estrutura manter-se-á. Os jogadores estão lá, ele conhece-os, eles conhecem-no. Como princípio de história já houve muito pior.
Por Luís Sobral

Antes de escrever o que quero escrever, o mais importante: saudar o aparecimento de mais um treinador português que se sente capaz de competir ao mais alto nível.

Dito isto, o resto.

A primeira impressão é abrir a boca de espanto.

Depois de ouvir Vítor Pereira na apresentação como treinador do F.C. Porto não tenho dúvidas de que lhe falta quase tudo para aquele tipo de confronto.

Primeiro, não convence.

Segundo, não entusiasma.

Terceiro, mas não menos importante, não inspira receio.

Um treinador do Porto não é aquilo. É mesmo muito diferente daquilo.

Tem de ser empolante, genial e agressivo, como Mourinho.

De cara fechada como Fernando Santos e Jesualdo Ferreira.

Ou inesperado e entusiasta, como Villas-Boas.

Também ter de ser competente, como todos os que citei. Acredito que Vítor Pereira o seja. Mas precisa de ganhar o resto. Depressa. Ou então precisa a estrutura do F.C. Porto de o completar, dando mais uma vez provas de inteligência e elasticidade.

A segunda impressão, mais reflectida, é um pouco diferente.

O F.C. Porto tem a melhor organização de futebol que existe em Portugal e provavelmente uma das mais competentes da Europa. Só isso permite que se movimente tão bem no mercado, que domine em Portugal e, sobretudo, que tenha conseguido somar três competições europeias no século XXI.

Esta estrutura é o verdadeiro segredo do sucesso portista.

Está suportada sobre pessoas, valores, rotinas e princípios que são conhecidos no interior do clube e pouco falados cá fora. Funciona muito bem.

Nesta estrutura, o treinador deve encaixar. Deve saber ao que vem, aceitar o que existe, testado e adaptado ao limite. Se conseguir influenciar de forma positiva, melhor. Não chega para mandar, no sentido inglês do termo. Não chega para revolucionar. Não chega para salvar. Não chega para ser número um, mesmo que o pareça na ficha do jogo.

Nesta contexto, um treinador da casa é sempre a solução óbvia. Aliás, há uns anos que o F.C. Porto anda a formar treinadores, num mistura curiosa entre ex-jogadores e pessoas com formação académica. Uma mistura que ganha títulos, forma e potencia futebolistas. E coloca nomes em diversos bancos, em Portugal e fora.

No fundo é como se tivessem dito à estrutura do clube, depois de um ano fantástico, que encarasse um desafio ainda mais difícil. Fazer bem com um treinador que não chega ao banco dourado pelo carisma, pela carreira, muito menos por ser a solução mais simples e consensual.

A eleição de Vítor Pereira para treinador do campeão garante o essencial: não haverá ruptura. Não se perderá tempo, a estrutura manter-se-á. Os jogadores estão lá, ele conhece-os, eles conhecem-no. Como princípio de história já houve muito pior.

Se pensarmos assim, Vítor Pereira poderá de repente fazer sentido.

O sentido relativo, claro, de alguém que nunca teve semelhante responsabilidade. Mas não se passou algo parecido com Mourinho? E com Villas-Boas? E, numa dimensão diferente, até com Fernando Santos e Jesualdo Ferreira?

Arriscado? Sim, claro. Mais difícil do que tem sido norma nos tempos mais recentes? Talvez sim. É possível que funcione? Não serei o primeiro a dizer que não. Afinal, os dirigentes do F.C. Porto, por tudo o que já fizeram, merecem essa prova de confiança. Mesmo se, como parece, foram pela primeira vez nos últimos anos apanhados de surpresa.

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