terça-feira, 31 de maio de 2011

Paul Scholes: aos 36 anos despede-se o génio silencioso



Médio do ManUtd pousa as botas depois de 17 épocas ao mais alto nível. «Com ele tudo era mais fácil para mim», diz Henrik Larsson ao Maisfutebol
Por Pedro Jorge da Cunha

Zinedine Zidane considerou-o «o melhor médio da sua geração». Alex Ferguson disse que é «uma inspiração para todos os jovens futebolistas». Elogios eloquentes na despedida de um dos melhores médios das últimas duas décadas. Paul Scholes decidiu dar descanso às chuteiras aos 36 anos. O Manchester United perde um dos principais artífices de grande parte dos títulos recentes, o futebol mundial fica sem um executante cristalino.

O menino de Salford primou sempre pela discrição. Homem de poucas palavras e raras explosões emocionais, Scholes entregou-se ao Manchester United e não trocou os red devils por nada. Essa foi a única camisola de clubes que o ruivo envergou ao longo de uma carreira profícua e extremamente consistente.

Tornou-se profissional em Julho de 1993 [aos 17 anos], mas teve de esperar mais de um ano até se estrear na principal equipa do United. A partir daí não mais deixou de ser influente e, tantas vezes, decisivo. Logo no primeiro ano fez cinco golos em 17 jogos. A seriedade colocada em campo e o profissionalismo demonstrado fora dele conquistaram em definitivo o exigente Ferguson.

Henrik Larsson foi colega de Scholes no United em 2006/07. O ex-internacional sueco, de origem cabo-verdiana, falou com emoção ao Maisfutebol sobre «um jogador tremendo». «Para mim, enquanto avançado, tudo ficava mais fácil em campo com o Scholes a jogar. Tinha uma precisão de passe soberba», diz um dos melhores atacantes do virar de século.

«O Paul adorava acertar com a bola em alvos vivos»

«Não tomei esta decisão levianamente. Sinto que é a altura de parar de jogar. Não sou um homem de muitas palavras, mas posso dizer honestamente que jogar futebol foi o que eu sempre fiz fazer. Foi uma honra jogar no Manchester United e um privilégio ter ajudado o clube a chegar ao 19º título da sua história.»

Paul Scholes manteve o low profile na hora do adeus. Sem espavento, sem estardalhaço, apenas uma mensagem singela e fluente. Um espelho, no fundo, daquilo que foi também o seu tipo de futebol. Atleta de baixa estatura [1,71 metros], Scholes afastou-se do protótipo britânico, mais virado para a raça e entrega do que para a excelência.

Médio omnipresente, possuidor de uma técnica refinada e de um pontapé temível. Sempre em movimento, sempre de cabeça erguida e campo de visão alargado. Foi dez vezes campeão nacional de Inglaterra, ganhou três Taças de Inglaterra, duas Taças da Liga, duas Ligas dos Campeões, uma Taça Intercontinental e um Campeonato Mundial de Clubes.

Apesar de silencioso, também gostava de brincar. Henrik Larsson fala ao nosso jornal do passatempo favorito de Scholes. «Acertar com a bola em alvos vivos nos treinos. Isso mesmo. Sempre que havia alguma paragem estávamos sujeitos a levar com uma bolada do Paul. Fiquei com muitas pisaduras por culpa dele.»

Paul Scholes é o espelho do crescimento do United nos últimos 20 anos. Scholes é uma parcela maioritária do United nos últimos 20 anos.

«Estamos todos a ficar velhos»

Também na selecção de Inglaterra Scholes foi figura primordial. 14 golos em 66 internacionalizações, um deles contra Portugal num jogo soberbo durante o Euro-2000. Participou em algumas das maiores competições de selecções, sempre com um capital de confiança inesgotável por parte dos diferentes selecionadores dos Três Leões.

«Estamos todos a ficar velhos», resume Henrik Larsson. «Temos de olhar para trás e perceber se valeu a pena. No caso do Paul Scholes acho que isso é inquestionável.» No total foram 17 temporadas em Old Trafford. 466 jogos e 102 golos. «Uma inspiração», disse Ferguson. Um exemplo, acrescentamos nós.

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